Palmeiras, febre verde, febre de bola. Temperatura sobe e impede de se ver o que tem melhorado

A introdução à edição comemorativa do vigésimo anivesário do livro Febre de Bola, de Nick Hornby, começa com a descrição de uma decepção: "Em fevereiro de 2011 -- no dia 27 de fevereiro, para ser preciso, aproximadamente às 5h50 da tarde -- meu time, o Arsenal, levou um gol do Birmingham City no último minuto da final da Copa da Liga, em Wembley, e como consequência perdeu a partida." "Eu e outros torcedores do Arsenal de uma certa idade já tínhamos visto aquele filme: assisti a meu time perder para o Swindon Town, da terceira divisão, e para o pequeno e improvisado Luton, e para o West Ham, da segundona -- descrições de todos os jogos aparecem adiante neste livro. De modo que versões mais jovens de mim mesmo não teriam se surpreendido com o rumo desafortunado dos eventos, tampouco com meu desespero, embora talvez pudessem, sim, ter se decepcionado com o fato de não haver ainda, no século 21, uma invenção ou lei capazes de impedir esse tipo de coisa de acontecer."
Nick Hornby e seu best-seller Febre de Bola são a prova de que há coisas que acontecem com todos os clubes, ainda que botafoguenses, palmeirenses e mais recentemente vascaínos atribuam as tragédias apenas a suas equipes. O Flamengo perdeu a final da Copa do Brasil para o Santo André, o Arsenal é quase sempre líder em outubro e quarto colocado em abril. Há de chegar o dia de isso ser diferente.
Para o Palmeiras, chegou e voltou a ser como era. O Ituano é mais um nome na lista infindável de decepções, mas exige de quem pretende pensar sobre futebol a reflexão do tamanho certo. O Palmeiras de hoje é melhor do que o do ano passado e muito superior ao de dois anos atrás. Isso não significa que já tenha um reserva à altura para Alan Kardec ou para Fernando Prass. Há coisas que ainda precisam melhorar.
Não se pode, no entanto, sair dos elogios da vitória sobre o Bragantino e cair no abismo da derrota para o Ituano, sem perceber o refinamento com que o destino se encarregou de tirar do jogo um a um os jogadores mais tarimbados. Não ter Valdivia por uma pancada no tornozelo -- não foi lesão repetida muscular -- perder Alan Kardec e Fernando Prass... O roteiro da eliminação nas semifinais foi requintado.
Expôs os defeitos, é claro. O maior deles, a angústia que sai dos olhos dos torcedores nas arquibancadas e toma conta dos jogadores em campo. Há sempre uma tensão, nervos à flor da pele, de quem conhece o risco da humilhação de ser eliminado por um pequeno.Quem, além do Palmeiras, foi capaz de ter decepções em partidas-chave contra Inter de Limeira, XV de Jaú, Bragantino, Ferroviária, São Caetano, Goiás, Ituano?
Quem? O Arsenal, talvez? Ou o Benfica, que perdeu para o Porto e para o Chelsea decisões no último minuto, no intervalo de três dias, ano passado. Ou o Botafogo, ou mesmo o Santos, que caiu num clássico contra o Corinthians a dez segundos do apito final.
Um amigo palmeirense reclinou-se na marquise do Pacaembu às 23h de 18 de agosto de 1990, no minuto em que Ulisses Tavares da Silva apitou o final de Palmeiras 0 x 0 Ferroviária. O Palmeiras estava eliminado da decisão do Paulista pelo Novorizontino. Reclinou-se na marquise por dez minutos e olhou no relógio, crente de que seriam 23h10. Já era meia-noite e cinco do dia seguinte.
Meu amigo se chama Sílvio. Poderia chamar-se Nick Hornby.

Por: PVC Paulo Vinicius Coelho

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